RIO – Diante da crise das operadoras de saúde e o progressivo aumento das prestações, as pessoas, angustiadas, temem perder os seus planos e questionam se o sistema é viável.
Os próprios administradores das operadoras já afirmaram — e os fatos o comprovam — que os planos só são viáveis se contarem com investimentos governamentais.
A questão, então, passa a ser outra. Devem os recursos públicos serem investidos em empresas privadas voltadas para à assistência a pessoas que, supostamente, podem pagar ou esses recursos deveriam destinar-se exclusivamente ao atendimento, de forma equânime, a todos os brasileiros, independentemente da sua condição financeira?
A Constituição Federal optou pela segunda alternativa. E o fez com base nos bons resultados alcançados por inúmeras sociedades democráticas — o Reino Unido, o Canadá, a União Europeia, os países escandinavos e outros — que adotaram um sistema de atendimento universal.
A solução para a saúde no Brasil estaria, assim, a depender do aprimoramento do sistema universal e não de mais investimentos públicos num sistema que, após meio século de tentativas, mostra-se inviável.
E os quase dois milhões de pessoas que deixaram recentemente os seus planos, o que podem fazer?
Duas medidas paralelas podem ser adotadas. A primeira inscrever-se numa unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e utilizar-se dos ambulatórios da Atenção Básica. Neles, são solucionados geralmente 80% dos problemas de saúde mais comuns. A outra, para o caso de restar algum recurso, adquirir planos com cobertura apenas para casos de hospitalização.
Essa atitude implicaria em adaptar-se a um processo, já em andamento, de mudança de um modelo de atendimento privado e limitado para um sistema público e universal, fundado na prevenção e promoção da saúde. Um processo difícil, sem dúvida, mas necessário e promissor.
(*) Márcio Meirelles é médico e editor do portal Observatório da Saúde
Fonte: O GLOBO (RIO DE JANEIRO) 02/07/2017