Os juros extremamente altos elevaram os gastos financeiros dos hospitais privados e drenaram dessas instituições o equivalente a investimentos suficientes à criação de 1,3 mil novos leitos. O dado está no Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), estudo divulgado nesta terça-feira e que detalha a situação financeira do setor privado de hospitais.
De acordo com o levantamento, os hospitais privados gastaram R$ 250 milhões a mais com despesas financeiras em 2016 na comparação com 2015. A quantidade de novos leitos que poderiam ter sido construído representa 6% dos 20.329 leitos que estão nos 80 hospitais membros da associação.
O presidente da associação, Francisco Balestrin, explicou que o aumento do custo do crédito foi o grande vilão das finanças das instituições no ano passado.
Com a alta despesa com os juros ao longo do ano passado, os hospitais registraram pelo segundo ano consecutivo retração de receita líquida, fechando o ano com R$ 20,2 bilhões, valor 0,8% menor que os R$ 20,3 bilhões de um ano antes.
— O ano passado foi um período de extrema cautela, redução de investimentos, renegociação de contratos e corte de despesas, o que permitiu ao setor hospitalar manter o equilíbrio financeiro mesmo diante do segundo ano consecutivo de retração da economia e aumento do desemprego — comentou Balestrin.
A queda de receita registrada em 2016 é muito menor que os -10,9% reportados pelos hospitais em 2015 e que havia sido a primeira retração do segmento em uma década. Segundo Balestrin, a queda significativamente menor reflete principalmente a melhoria de gestão, a contenção de despesas e a retração do volume de investimentos.
— A melhora na administração das despesas, porém, permitiu ao setor manter o equilíbrio financeiro mesmo diante do segundo ano consecutivo de recessão — disse Balestrin.
Outra constatação do Observatório da Anahp é que, apesar da retração de 1,4 milhão de beneficiários de planos de saúde de 2015 para 2016, sobretudo por conta do aumento do desemprego, as operadoras de planos continuam sendo a principal fonte de receita dos hospitais associados à Anahp. No ano passado, a receita paga por essas empresas respondeu por 93,3% do total dos ganhos totais das instituições hospitalares. Em 2015, essa fatia era de 92,4% e em 2014, de 91,5%.
Do outro lado da balança está a participação das receitas oriundas do Sistema Público de Saúde (SUS), que saiu de 3,7% em 2014 para 3,1% em 2015 chegando a 2,7% no ano passado. Os recursos provenientes dos atendimentos particulares, por sua vez, também retraíram de 4,9% em 2014 para 4,5% em 2015 e 4% em 2016.
Balestrin destaca que a queda no número de beneficiários afetou principalmente os atendimentos de pronto-socorro, que caíram 3% na comparação com o ano passado.