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O último levantamento divulgado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) aponta que, em média, a rede particular de saúde do RJ já ultrapassou os 90% de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Projeção feita pelo médico Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (Aherj), estima que, em menos de 15 dias, todos os leitos da rede privada estarão ocupados.
O colapso do sistema particular de saúde deve acontecer, segundo cálculo feito por Alvim, porque no período o número total de casos da doença vai dobrar no estado. Na última sexta-feira (8), o RJ contabilizou um total de 15.741 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Em todo o estado, são 1.503 óbitos confirmados.
O G1 mostrou que, no dia 30 de abril, a rede particular do RJ estava com cerca de 80% de seus leitos ocupados. Em menos de 10 dias, esse número bateu os 90%, segundo a Anahp.
Para Alvim, a única saída para enfrentar a doença é a contratação de leitos em outros estados.
“Considerando a taxa de incidência diária de novos casos, a taxa de contágio e dias necessários para dobrar o número de casos, presumimos um colapso do sistema privado em poucas semanas”, disse Alvim.
“Tal qual na rede pública, também haverá insuficiência de leitos nos hospitais particulares. E sem alternativas para internação destes pacientes, é muito provável que o Rio de Janeiro necessitará contratar leitos nas cidades próximas e as operadoras de planos de saúde, precisarão montar uma rede de apoio intermunicipal e até interestadual, para descomprimir a carência de leitos e evitar um colapso total no sistema de saúde.”
O levantamento feito pelo Dr. Alvim avaliou números dos primeiros dias do mês de maio e encontrou uma taxa de incidência de 4,06 novos casos por 100 mil pessoas a cada 24 horas.
Já a taxa de contágio, ou seja, do número de pessoas que são infectadas a partir de uma única pessoa com o vírus, foi estimada em 3,91.
Atualmente, a rede hospitalar do estado, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), possui 8.224 leitos de UTI adulto para tratar a Covid-19.
Colapso aumentará o número de mortes
O G1 ouviu professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), responsáveis pela coordenação de grupos de pesquisas sobre a Covid-19. Todos concordam com a previsão de colapso na rede de saúde do RJ.
“Infelizmente essa análise coincide com a nossa. Os hospitais da rede pública já estão lotados, com filas de espera, e eu acredito que a rede particular também vá apresentar sobrecarga”, avaliou Eduardo Rocha de Almeida Lima, professor e pesquisador do Instituto de Química da UERJ.
Para Eduardo, que também estuda a importância do isolamento social na prevenção de mortes, o número de casos confirmados da doença a cada 24 horas ainda não chegou em seu ponto máximo.
“De acordo com as previsões, o pico deve acontecer no final de maio, isso para o Brasil todo. O que é muito preocupante, porque quando os hospitais ficam lotados a letalidade da doença aumenta”, projetou o professor.
Outro especialista em dados da Covid-19, o professor de estatística Wilson Calmon, que coordena o portal de dados sobre o Covid-19 da UFF, acredita ser possível ver os números de casos da doença dobrarem em menos de 10 dias.
Para ele, a explicação para esse fenômeno é o grande número de pessoas esperando para receber os resultados de exames de testagem da Covid-19.
“Se a maioria dos casos forem confirmados, vamos ter uma explosão desse número. É até natural que isso aconteça”, disse Calmon.
Números representam o passado
O professor de estatística da UFF fez questão de lembrar que em uma epidemia sempre estamos olhando para o passado. Ou seja, os números revelados hoje, representam informações antigas.
Segundo Calmon, é preciso considerar nessa conta as variáveis, como adesão às medidas de isolamento social, maior número de pessoas testadas e a precisão nas notificações. Se todos esses pontos forem negativos, o aumento de casos pode ser ainda maior.
“Em epidemias, sempre vamos estar atrasados. Sempre que olhamos para uma curva estamos vendo o passado da epidemia. Novos casos de hoje na verdade são casos de pessoas que ficaram doentes há alguns dias. Em toda projeção existem incertezas. Isso faz parte das estatísticas”, ponderou Wilson Calmon.
FONTE: G1 https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/10/hospitais-particulares-do-rj-estao-com-90percent-dos-leitos-de-uti-ocupados-associacao-preve-colapso-em-menos-de-15-dias.ghtml