Em janeiro deste ano, os primeiros pacientes brasileiros com hepatite C começaram a ser tratados com novas drogas desenvolvidas, que representam um novo paradigma no combate à doença. Quase um ano depois, os resultados começam a ser exibidos, com um nível de eficácia que surpreende até os médicos especialistas no assunto.
“É maravilhoso. Hoje podemos dizer que a hepatite C é a única doença infecciosa crônica que tem cura”, comemora a médica Rosângela Teixeira, professora da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora do ambulatório de hepatites virais do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.
As drogas sofosbuvir, daclatasvir, simeprevir e viekira pak partem de um novo pressuposto para o tratamento. Antes, o interferon, medicamento usado no combate à doença, buscava estimular o sistema imunológico do paciente a derrotar o vírus. Mas sua eficácia girava em torno de 50% a 70% de cura.
A diferença das novas drogas é que elas atacam diretamente o vírus nas células infectadas, aumentando a eficácia. “Em nosso serviço, que já atendeu cerca de 200 pacientes, temos uma taxa de cura acima de 95%. No mundo, essa taxa está em 90% em média”, afirma a médica.
Há, ainda, um aumento na qualidade de vida durante o tratamento. “Os efeitos adversos do interferon incluíam perda de peso, depressão, queda das células brancas e plaquetas, instabilidade emocional, mal-estar geral e incapacitação para o trabalho. Com as novas drogas, não registramos efeitos adversos importantes”, diz Rosângela Teixeira.
A dentista Kátia Cristina Gonçalves, 47, pode comprovar isso. Ela, que foi diagnosticada com hepatite C em 1994, passou pelo tratamento com o sofosbuvir recentemente. “Foi muito tranquilo. A única coisa que senti foi um leve desconforto nas articulações, mas não me atrapalhava em nada. Levei vida normal”, conta ela.
Kátia tomava um comprimido da droga uma vez ao dia. Hoje está totalmente curada da hepatite e faz exames de controle a cada três meses.
SUS. As novas drogas estão disponíveis para os pacientes da rede pública de saúde. Atualmente, estão liberadas para uso somente nos pacientes mais graves da doença. Mas, de acordo com a médica Rosângela Teixeira, a tendência é que o acesso seja ampliado.
Doença pode virar cirrose ou até câncer
A hepatite C é uma doença silenciosa. E sorrateiramente os vírus vão atacando o fígado do paciente, causando fibrose hepática e até cirrose.
“A maioria (dos pacientes) fica assintomática até aparecerem as complicações da cirrose ou um câncer no fígado. A pessoa vem ao consultório com uma hemorragia digestiva, ou com ‘barriga-d’água’, e assim acaba descobrindo a hepatite C, já em estágio avançado”, conta a médica Rosângela Teixeira.
De acordo com ela, estudos mostram que 85% dos casos de hepatite C no Brasil são em pessoas com mais de 45 anos. Por isso, a recomendação é que pessoas acima dessa faixa etária façam um teste para verificar a presença do vírus no sangue. Em caso de positivo, a pessoa deve procurar tratamento.
“É importante que as pessoas saibam que o vírus se pega pelo contato com o sangue infectado. Procedimentos que envolvem agulhas e sangramento são potencialmente um risco. É preciso ter atenção com alicates de cutícula, tatuagens, piercings etc.”, orienta.
Fonte: otempo.com.br