A pandemia pelo novo corona vírus pegou o mundo de surpresa. A COVID-19, que chegou à China em dezembro de 2019, em menos de dois meses parou a Europa e em seguida as Américas. Em março de 2020 a maioria das companhias aéreas mundiais já tinham restrições de voos para grande parte dos países do globo.
O tombo econômico também foi global. De todas as categorias de produtos e serviços nenhuma sofreu tanto quanto o turismo. Companhias aéreas faliram, hotéis fecharam as portas, alguns sem recursos para pagar os funcionários, eventos turísticos, feiras, simpósios e congressos foram cancelados ou postergados para o futuro, pontos turísticos ficaram inacessíveis e toda a cadeia de funcionários e trabalhadores em turismo (a maioria autônomos), ficaram sem renda e sem demanda de serviços.
E o que aconteceu com o Turismo de Saúde? É obvio que também está sofrendo com esta pandemia, mas está procurando alternativas de sobrevivência.
Os hospitais, que ficaram cheios de pacientes infectados, tiveram que parar as cirurgias eletivas e os procedimentos médicos não relacionados a COVID foram adiados. Os pacientes evitaram frequentar serviços de saúde com receio do contágio. As viagens foram canceladas e os facilitadores do Turismo de Saúde, entraram num looping de falências.
Mas o turismo médico nunca parou!!! Pegando o exemplo do Brasil, desde populações ribeirinhas, cidadãos de pequenas cidades nos interiores dos estados e até moradores das capitais, utilizaram mais que nunca este mecanismo para buscar melhores condições de tratamento para suas necessidades médicas.
Pacientes com Covid-19 de Belém são tratados em Santarém
A procura por melhores centros com expertise no tratamento do novo coronavírus e com serviços de terapia intensiva mais equipados no mercado interno brasileiro nunca foi tão intensa.
Aluguel de barcos de transportes, ambulância com UTI móvel e até mesmo aluguel de transporte aero-médico com UTI, tiveram uma demanda exponencial, tanto dentro do Brasil, quanto proveniente de países vizinhos, com destino final para as cidades com recursos hospitalares mais qualificados. Hotéis próximos a centros hospitalares serviram de apoio para familiares de pacientes e até equipes médicas.
Infelizmente, a indústria do turismo ainda não estava preparada para atender esta demanda e muito menos para ofertar serviços complementares neste segmento de forma integrada.
Em 2019 demos os primeiros passos para a estruturação deste mercado no Rio de Janeiro. Fechamos uma parceria com a Global Healthcare Accreditation (GHA) e realizamos o primeiro Certificado Profissional em Turismo Médico (CMTP), onde formamos um grupo de profissionais aptos a desenvolver as ferramentas necessárias ao bom funcionamento do turismo médico no Brasil.
Sensível ao momento, em 2020 a GHA autorizou a renovação dos certificados de forma totalmente gratuita.
Para este ano planejamos uma nova certificação nacional de forma remota, buscando tornar o conhecimento no Turismo Médico e de Saúde mais amplo e mais eficiente, com preços acessíveis a todos deste Setor que estão ávidos por informação e oportunidades de trabalho.
Em outros países, as iniciativas continuam acontecendo. Apesar de toda a crise e a falta de demanda internacional, a Tailândia, por exemplo, segue investindo no turismo médico, acreditando serviços hospitalares, spas, hotéis e serviços de wellness (bem-estar), além de dos stakeholders, isto é, aqueles que atuam nas atividades de suporte.
Temos a convicção de que no pós-COVID, podemos criar uma rede mais forte de Turismo Médico e de Saúde, com preços bastante competitivos, tanto pela valorização do dólar, quanto pela oferta de profissionais competentes em toda a cadeia. Devemos, neste momento de crise, nos reinventar.
Qualificar nossos serviços, acreditar nossas instituições, treinar pessoas e certificar profissionais é uma meta a ser seguida. Nossa capacidade de resiliência é insuperável e a receptividade do brasileiro é inigualável.
O Turismo Médico, mesmo na crise, continua vivo.
Dr Graccho Alvim
- Médico formado pela UFRJ, trabalhou como diretor médico e administrativo de hospitais no Rio de Janeiro por 30 anos.
- Diretor de AHERJ – Associação dos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro
- Diretor Executivo da Faturhelp Saúde – Consultoria internacional em saúde
- Representante da Global Healthcare Organization (GHA) no Brasil.